Caminhos de Santiago
Os caminhos de Santiago tem sido percorridos por milhares de Portugueses em bicicleta.
Com objectivos religiosos ou lúdicos ou até os dois, os caminhos levam-nos para a história e fazem-nos percorrer locais de beleza ímpar.
Com objectivos religiosos ou lúdicos ou até os dois, os caminhos levam-nos para a história e fazem-nos percorrer locais de beleza ímpar.
Este ano, mais uma vez desafiei vários amigos para me acompanharem nesta aventura, mas já tinha decidido ir sozinho se mais ninguém houvera para me acompanhar.
Cerca de 1 mês antes recebi a confirmação da pessoa que menos esperava, o Avelino Sousa, amigo de longa data, colega de trabalho e companheiro de muitos bons momentos.
Quando digo improvável, não porque tivesse qualquer dúvida da sua vontade, mas para alguém aceitar ir a Santiago sem que tenha uma bicicleta à altura de tal demanda, preocupava-me, sem sequer andar de bicicleta regularmente desde a sua infância, preocupava-me, mas acima de tudo porque este é um passeio em que se testam alguns limites e, em autonomia, esses limites rapidamente são atingidos, a preocupação era a triplicar.
A questão é que o Avelino raramente vira as costas a um desafio e rapidamente resolveu o problema da montada, já que ao experimentar a minha Trek viu as diferenças entre as bicicletas modernas e as antigas máquinas, através de um negócio de oportunidade comprou uma Scott Reflex 35, já habituadinha a fazer estrada e começou os treinos. Fez um treino de 30 km até à nascente do Este! A aventura prometia. ;-)
Os dias foram passando e rapidamente chegamos ao dia do passeio, sofremos o primeiro revés, Portugal perdeu com a Espanha no euro 2012. :-(
Às 00h00 do dia 28 fui ter com o Sr. Amaro da Associação Espaço Jacobeus, no IPJ de Braga, porque com todas estas desventuras esqueci-me de pedir as credenciais e as mesmas devem ser pedidas com alguma antecedência, aqui agradeço a sua disponibilidade, e a conversa acabou por se alongar, típico de quem fala dos caminhos com paixão e sai do IPJ, já passava da 01h00 da manhã, para quem se tinha de levantar às 06h30 e acabar de preparar as últimas coisas as horas começavam a ser poucas.
Às 08h00 prontos para partir, era preciso carimbar as credenciais.
A vontade era muita e o Avelino estava ansioso para que a peregrinação iniciasse. O inicio deu-se por volta das 08h15.
O percurso até Prado é pacifico, sempre a descer, passamos por uma imagem de São Tiago sobre uma fonte, na Rua da Boavista, mais conhecida por Cónega e que o Miguel Sampaio aquando da realização do Caminho de Torres fez questão de visitar e de me mostrar.
Na ponte de Prado, que foi construída em 1617, paramos para tirar umas fotos.
Deixamos prado para trás e fomos até à Torre de Penegate, serpenteando a EN Braga Ponte de Lima.
A Torre de Penegate é um daqueles monumentos que nos faz sentir não merecedores da história que temos, tal é o estado de abandono, mas aqui fica uma pequena história deste monumento:
A primeira referência ao topónimo Penegate aparece em 1064, por substituição de uma anterior designação, Penela (SOUSA, 1978, pp.13-14). Por este facto, pressupõe-se que, desde o início, o topónimo esteve associado a um monte dominante, onde, mais tarde, se implantou a torre gótica que conhecemos. Permanecem dúvidas, todavia, sobre uma eventual torre românica, ou proto-românica, atribuída à iniciativa de D. Egas Pais de Penegate, valido do Conde D. Henrique, defendida por alguns autores (ABREU, coord., 1963, p.42), mas de que não restam, hoje, vestígios aparentes.
A monumental torre que se conserva ficou a dever-se a Mem Rodrigues de Vasconcelos, companheiro de armas de D. Dinis na guerra que este monarca travou contra seu filho, futuro D. Afonso IV. O documento de autorização para a construção da domus fortis, datado de 5 de Outubro de 1322, é o mais importantes indicador da relevância militar deste edifício. Nele se refere expressamente que D. Dinis "havia proibido a construção destas casas fortificadas a não ser com sua expressa autorização". Deve realçar-se o facto de esta autorização não surgir como benesse pelos serviços prestados, mas para proteger Mem Rodrigues de Vasconcelos no cargo que então ocupava, meirinho-mor do rei na região de Entre-Homem-e-Cávado, zona onde a justiça real tinha dificuldades em impor-se por acção contestatária de Pedro Anes de Vasconcelos, tio de Mem Rodrigues (SOUSA, 1978, p.14). Desta forma, conpria huma casa forte (...) para teer hy o corpo em salluo quando lhy conprise e outro ssy pera teer hy a molher e os filhos que non possam Receber dano daquelles que lhy a el mal querem polo meu serviço (SILVA, 1995, pp.48-49).
Em posição dominante sobre um vasto território circundante, e assente num afloramento de difícil acesso, a torre é de planta rectangular organizada em três pisos. A entrada principal, aberta no alçado nascente e de perfil apontado, está bem acima do solo, num dispositivo defensivo que obrigava ao acesso ao interior através de escada amovível, de que restam ainda os apoios. A entrada devia ser guarnecida por alpendre, do qual restam duas mísulas a enquadrar o portal. Na face ocidental, ao nível da janela do último piso, existe um balcão de matacães, que permitia o tiro vertical sobre o único caminho que conduz ao edifício. Outras características vincadamente militares são o escasso fenestramento (apenas a face voltada a Sul, a mais exposta ao Sol, possui três vãos muito apertados, de perfil quebrado), o aparelho plenamente isódomo, de forma escalonada nos registos inferiores, para maior sustentação da estrutura, e o recorde ameado do coroamento.
Como concluiu José Custódio Vieira da SILVA, 1995, p.49, Penegate é, de todas as torres "similares conhecidas, a que se implanta de forma tão ostensivamente militar no alto de um monte inacessível". Por outro lado, a sua existência não pretende dominar um agro rural, vinculado ao seu estatuto, mas sim criar uma propositada zona defensiva, que protegesse os seus proprietários.
Nos inícios do século XVII, construiu-se a capela de Nossa Senhora da Penha, por iniciativa de Miguel Valadares (conforme inscrição na fachada principal). Este nobre, cónego de Guimarães e desembargador em Braga, era então proprietário da herdade e edificou a capela para sua sepultura. É um templo barroco de pequena dimensão e conserva o retábulo-mor contemporâneo, de estrutura tripartida, com a imagem de Nossa Senhora ao centro, e as de São João e Santo António, em painéis pintados, de ambos os lados.
Em 1907, a torre passou para a posse da família dos actuais proprietários, efectuando-se, nas décadas posteriores, obras de consolidação e de restauro. De entre os trabalhos realizados, destaca-se a colocação de ameias em 1939, que subverteu o ritmo original destes elementos (AZEVEDO, 1988, p.157), e a edificação de um segundo corpo, de carácter residencial.
A monumental torre que se conserva ficou a dever-se a Mem Rodrigues de Vasconcelos, companheiro de armas de D. Dinis na guerra que este monarca travou contra seu filho, futuro D. Afonso IV. O documento de autorização para a construção da domus fortis, datado de 5 de Outubro de 1322, é o mais importantes indicador da relevância militar deste edifício. Nele se refere expressamente que D. Dinis "havia proibido a construção destas casas fortificadas a não ser com sua expressa autorização". Deve realçar-se o facto de esta autorização não surgir como benesse pelos serviços prestados, mas para proteger Mem Rodrigues de Vasconcelos no cargo que então ocupava, meirinho-mor do rei na região de Entre-Homem-e-Cávado, zona onde a justiça real tinha dificuldades em impor-se por acção contestatária de Pedro Anes de Vasconcelos, tio de Mem Rodrigues (SOUSA, 1978, p.14). Desta forma, conpria huma casa forte (...) para teer hy o corpo em salluo quando lhy conprise e outro ssy pera teer hy a molher e os filhos que non possam Receber dano daquelles que lhy a el mal querem polo meu serviço (SILVA, 1995, pp.48-49).
Em posição dominante sobre um vasto território circundante, e assente num afloramento de difícil acesso, a torre é de planta rectangular organizada em três pisos. A entrada principal, aberta no alçado nascente e de perfil apontado, está bem acima do solo, num dispositivo defensivo que obrigava ao acesso ao interior através de escada amovível, de que restam ainda os apoios. A entrada devia ser guarnecida por alpendre, do qual restam duas mísulas a enquadrar o portal. Na face ocidental, ao nível da janela do último piso, existe um balcão de matacães, que permitia o tiro vertical sobre o único caminho que conduz ao edifício. Outras características vincadamente militares são o escasso fenestramento (apenas a face voltada a Sul, a mais exposta ao Sol, possui três vãos muito apertados, de perfil quebrado), o aparelho plenamente isódomo, de forma escalonada nos registos inferiores, para maior sustentação da estrutura, e o recorde ameado do coroamento.
Como concluiu José Custódio Vieira da SILVA, 1995, p.49, Penegate é, de todas as torres "similares conhecidas, a que se implanta de forma tão ostensivamente militar no alto de um monte inacessível". Por outro lado, a sua existência não pretende dominar um agro rural, vinculado ao seu estatuto, mas sim criar uma propositada zona defensiva, que protegesse os seus proprietários.
Nos inícios do século XVII, construiu-se a capela de Nossa Senhora da Penha, por iniciativa de Miguel Valadares (conforme inscrição na fachada principal). Este nobre, cónego de Guimarães e desembargador em Braga, era então proprietário da herdade e edificou a capela para sua sepultura. É um templo barroco de pequena dimensão e conserva o retábulo-mor contemporâneo, de estrutura tripartida, com a imagem de Nossa Senhora ao centro, e as de São João e Santo António, em painéis pintados, de ambos os lados.
Em 1907, a torre passou para a posse da família dos actuais proprietários, efectuando-se, nas décadas posteriores, obras de consolidação e de restauro. De entre os trabalhos realizados, destaca-se a colocação de ameias em 1939, que subverteu o ritmo original destes elementos (AZEVEDO, 1988, p.157), e a edificação de um segundo corpo, de carácter residencial.
Torre de Penegate
Seguimos até à Portela das Cabras, subimos, subimos e tornamos a subir. Mas a seguir a isto começamos a descer, descer e outra vez descer, passamos por Goães, onde se encontra agora um Albergue que vale a pena visitar, já que se trata de um projecto de reconversão de uma antiga escola primária. Em visita feita em Agosto do ano passado tinha expostos nas paredes alguns quadros interessantes sobre os Caminhos de Santiago.
Passamos na Ponte Romana de Goães
Após o angulo 40 paramos no supermercado Rio Mau, para abastecimento de água e primeiro carimbo após a Sé.
Abaixo o Avelino em acção num dos muitos caminhos que antecedem Ponte de Lima
Chegamos a assim às primeiras sinalizações que indicam a via romana XIX e que antecedem o Campo de Golfe de Ponte de Lima. Nesta zona existem dois caminhos marcados, um que vai para a EN percorre cerca de 1km e entra do campo de Golfe, mais fácil mas mais perigoso pelo trânsito que existe, neste percurso também se anda um pouco para trás. A outra alternativa é seguir em frente, que foi o escolhido, nunca o tinha feito, mas apresenta uma dificuldade maior, subida em alcatrão dentro do complexo habitacional do campo de Golf, as marcações não estão claras, aconteceram 2 enganos aqui e o facto de maior parte dos lotes não estar tratado dá-nos a impressão que entramos numa propriedade que foi abandonada.
Cerca das 12h00 chegamos a Ponte de Lima e a chuva começou-nos a acompanhar. Já em Ponte de Lima o que se pensa, Sarrabulho e rojões, mas estávamos em peregrinação e não podíamos ceder a tentações, a mesma ideia não tinha São Pedro e então aumenta um pouquinho a carga de chuva que nos obrigou a procurar abrigo. Azar dos azares encontramos abrigo no restaurante Beco das Selas onde fomos brindados com um sarrabulho digno de peregrinos.
Era preciso comer porque da parte da tarde tínhamos a Labruja.
Depois de bem alimentados, iniciamos a marcha da tarde, a chuva já tinha parado. Conclusão: São Pedro tinha enviado a água para que o pó não se levantasse. :-)
Ponte Velha
Continuamos em direção a Arcozelo. Chegamos à Santrutas um viveiro de trutas onde servem snacks e também deixam pescar. Aqui apenas pescamos umas águas com gás e um carimbo.
Continuamos a percorrer caminhos em Arcozelo, fizemos uma pequena incursão em Cepães para depois entrar na Freguesia de Labruja.
Travessia do Rio Labruja, agora melhorado.
Chegamos à Capela da Nossa Sra das Neves na Labruja.
Aqui mais um carimbo e mais um abastecimento liquido para conseguirmos aguentar a Labruja.
Começamos a Subir
Chegados à Cruz dos Franceses, assinala o local onde a população emboscou os retardatários do exército de Napoleão, na invasão francesa de 1809.
Mas a subida não terminava aqui, dá para ficar sem palavras...
Com uns colegas de Braga a fazerem também a peregrinação.
Sempre a subir e com pedras.
No final da subida da Labruja a satisfação de um objectivo atingido.
Aqui o Avelino a meter água
Continuamos em direção a Rubiães por zonas florestais muito bonitas, até ao albergue de Rubiães
Passagem rápida pelo interior do albergue e seguir até à Ponte Românica existente na freguesia.
Até São Bento da Porta Aberta foi sempre a rolar com subidas ligeiras alternadas por subidas mais intensas mas dentro de um bosque junto ao Rio Coura. Som fantástico para os nossos ouvidos.
Depois foi sempre a descer até Valença. A chuva estava a ameaçar mas nós já tinhamos decidido ficar na Pousada de S. Teotónio, Valença.
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